Ninguém sabe dizer nada
Da formosa Mariquinhas,
A casa foi leiloada,
Venderam-lhe as tabuinhas.
A casa foi leiloada,
Venderam-lhe as tabuinhas.
Ainda fresca e com gajé
Encontrei na Mouraria
A antiga Rosa Maria
E o Chico do Cachené.
A antiga Rosa Maria
E o Chico do Cachené.
Fui-lhes falar, já se vê,
E perguntei-lhes de entrada
Pela Mariquinhas, coitada...
Respondeu-me o Chico:
“E vê-la?
Tenho querido saber dela
Ninguém sabe dizer nada.”
Tenho querido saber dela
Ninguém sabe dizer nada.”
Então as suas amigas,
A Clotilde, a Júlia Alda,
Então as suas amigas,
A Clotilde, a Júlia Alda,
A Inês, a Berta, a Mafalda,
E as outras mais raparigas
A Inês, a Berta, a Mafalda,
E as outras mais raparigas
Aprendiam-lhe as cantigas,
As mais ternas, coitadinhas,
Formosas como andorinhas
Olhos e peitos em brasa...
Que pena eu tenho da casa
Da formosa Mariquinhas!
Que pena eu tenho da casa
Da formosa Mariquinhas!
Então o Chico apertado
Com perguntas, explicou-se:
Então o Chico apertado
Com perguntas, explicou-se:
A vizinhança zangou-se
fez um abaixo-assinado,
A vizinhança zangou-se
fez um abaixo-assinado,
Diziam que havia fado
Alí, até madrugada,
A pobre foi intimada
A sair; foi posta fora
E por mor duma penhora
A casa foi leiloada.”
E por mor duma penhora
A casa foi leiloada.”
O Chico fora ao leilão,
Arrematou uma guitarra,
O Chico fora ao leilão,
Arrematou uma guitarra,
O espelho, a colcha com barra,
O cofre-forte e o fogão.
O espelho, a colcha com barra,
O cofre-forte e o fogão.
Como não houve cambão,
Porque eram coisas mesquinhas,
Trouxe um par de chinelinhas,
O alvará e as bambinelas.
E até das próprias janelas
Venderam-lhe as tabuinhas.