Não tem mundo, não tem gente
Não tem nada, acredite
Tudo seco, não resiste
Racha o solo, dói à mente
Num deserto inclemente
Sem sombra e sem guarida
É caravana perdida
Tempestade de areia
Que sufoca e incendeia
Não tem água, não tem vida
Se a água na vertente
Feito uma filha que nasce
Lá na serra imaginasse
Tão nascida, tão nascente
Força da água corrente
Dá à planta umedecida
Gerando tanta comida
A semente, a vinha e o pão
Pro verde brotar do chão
Não tem água, não tem vida
Confesso tá complicado
A disputa do planeta
Ai de quem se intrometa
Nesses assuntos tratados
Contratos sendo firmados
Exploração sem medida
Água virando bebida
Em anúncios comerciais
Destruindo os mananciais
Não tem água, não tem vida
São as indústrias pesadas
São as regras do Mercado
Tudo em série organizado
A produção foi pensada
Muitas horas trabalhadas
A meta sendo atingida
Caso não seja cumprida
Reclama forte o patrão
Não entende a situação
Não tem água, não tem vida
A cidade estagnada
Violência nos assalta
Falta tudo, água falta
População é jogada
Rompe o cano na calçada
Brincadeira divertida
Burguesia enfurecida
Um desaforo tamanho
A criançada no banho
Não tem água, não tem vida
Lá na roça, manhãzinha
Desperta o dia bem cedo
Céu e nuvem nos dizendo
Vai ter chuva na tardinha
Aquela chuva mansinha
Deixando a terra Florida
Respirando agradecida
Sabe a importância que tem
Se tem água, tudo bem
Não tem água, não tem vida