Vou contar a minha vida
Do tempo que eu era moço
Duma viage que eu fiz
Lá pro sertão de Mato Grosso
Fui buscar uma boiada
Isto foi no mês de agosto
Meu patrão foi embarcado
Pra linha Sorocabana
Capataz da comitiva
Era o Juca Flor da Fama
Foi tratado pra trazer
Uma boiada cuiabana
Eu saí do Alambari
Na minha besta ruana
Só depois de trinta dia
É que cheguei em Aquidauana
Lá fiquei enamorado
Duma marvada baiana
No baio foi João Negrão
No tordio Severino
Zé Garcia no alazão
No pampa foi Catarino
A madrinha e o cargueiro
Quem puxava era um menino
Na vorta de Campo Grande
No cassino fui entrando
Uma linda paraguaia
Na mesa tava jogando
Botei a mão na argibeira
Dinheiro tava sobrando
Ela mandô me dizê
Pra mim que fosse chegando
Eu virei, disse pra ela
Vá bebendo, eu vou pagando
Eu joguei nove partida
Meu dinheiro foi andando
(“A lua foi se escondendo
Vinha rompendo a manhã
Aquela morena trigueira
Bonita, cor de romã
Soluçando me pedia
Negro, leva-me contigo
Yo te quiero tanto
Lhe darei toda mi vida
Toda mi alma
Os boiadeiros no rancho
Tavam prontos pra partida
Numa roseira cheirosa
Os passarinho cantava
E a minha besta ruana
Parece que adivinhava
Que eu sozinho não partia
Meu amor me acompanhava”)
De Campo Grande parti
Com a boiada cuiabana
Meu amor veio na anca
Da minha besta ruana
Hoje eu tenho quem me alegre
Na minha véia choupana
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)