Eu tô bem aborrecido
De escuitá o povo falá
Pra morde o decreto novo
Que a pinga vai aumentá
Se isso for acontecido
Muita gente passa má
Pra mim que assuspenda tudo
Só a pinga não pode sê
Como é que eu vivo no mundo
Sem minha pinga bebê
Dia que não bebo pinga
Parece que vô morrê
Quando eu dô pra bebê pinga
Eu varo a sumana intêra
Eu fico dentro da venda
Fico falando bestêra
De noite vorto pra casa
Sem um tostão na argibera
Eu quando vorto pra casa
Venho dando cambaleão
Veja o que me aconteceu
Na ponte do Arião
Caí de riba da ponte
Nem quebrei o garrafão
Nesse dia eu tava arto
Fiquei no meio da estrada
Muié me levô pra casa
E meu deu tanta pancada
Amanheci notro dia
Com a cara tudo amassada
Negócio de tomá tombo
Já tô bem acustumado
Já tô co dedão sem unha
Coitado tá calejado
Quebra toco no caminho
Que parece inté machado
O cabra que bebe pinga
Pisa bem arto no chão
Assim mesmo dá topada
Quebra unha e o dedão
O cabra quebra a cabeça
Mais não quebra o garrafão
Eu notro dia alevanto
Cabeça tudo amarrada
Mais inda cum tudo isso
Eu acho que num é nada
Só farta minha cabeça
Acustumá cum pancada
A pinga é bão alimento
Assim me disse o dotô
No tempo do frio esquenta
E refresca no calô
Pode me fartá cumida
Mas pinga não, por favô
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)