Vejo no espelho o meu rosto envelhecendo, qual oceano após a sanha de um tufão
a espuma branca são meus cabelos grisalhos, minha calvície é a praia da ilusão
as minhas rugas são as ondas traiçoeiras, que se avolumam com os fortes vendavais
meus olhos fundos são dois barcos naufragados, que sobre as ondas não emergem nunca mais
Meus lábios frios, já quase mortos
tem sido o porto, anos atrás
onde atracavam, lábios ardentes
hoje só resta a solidão no cais
Velhos amores para bem longe voaram, como gaivotas que se perdem sobre o mar
a mocidade ficou longe como as rochas, onde só as ondas da saudade vão beijar
vagando vou como um navio que perde o rumo, não encontro cais onde eu consiga me ancorar
é tão pesada a bagagem dos meus anos, que está fazendo minha vida naufragar