No tempo que eu fui boiadeiro
Foi um tempo divertido
Mas eu tenho uma passagem
Que não sai do meu sentido
Certo dia viajando
Pela estrada distraído
Um bom dinheiro eu levava
De um gado que foi vendido
Na hora que eu dei por fé
O dinheiro tinha perdido
Dois meninos inocentes
Por ali iam passando
O almoço pro seus pais
Com certeza iam levando
Acharam aquele dinheiro
Contentes foram guardando
Quando me viram na estrada
Estavam me procurando
De bão gosto os coitadinhos
O dinheiro foram me entregando
Quando eu peguei o dinheiro
Nem sei como agradecia
Gratifiquei o menino
Porque ele bem merecia
Na hora que dei o dinheiro
Teve um sujeito que via
Dali eu segui viagem
Mas daquilo eu não esquecia
O que ia acontecer
Meu coração pressentia
Quanto mais eu viajava
Mais ficava contrariado
Resolvi voltar pra trás
Pelo destino mandado
Palavra que até chorei
Ver o que tinha se dado
O ladrão matou o menino
Dinheiro tinha roubado
O outro inocente chorava
No irmãozinho abraçado
Numa altura do caminho
Ainda eu pude avistar
O malvado assassino
Correndo pra se livrar
Risquei meu burro na espora
E dei em cima pra pegar
Numa cerca de arame
Quando ele quis atravessar
Eu lacei esse bandido
Como laça um marruá
Dali pra delegacia
Levei o tal amarrado
E o menininho morto
Nos meus braços carregado
Levei o seu irmãozinho
Pra provar o que foi se dado
O meu laço justiceiro
Eu entreguei pro delegado
Pra servir de testemunha
Daquele triste passado
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)