Coloquei os meus pertences
Todos num par de bruaca
E cangaiei a mula véia
Que já anda meio fraca
O pouco troquinho que eu tinha
Eu coloquei na guaiaca
Peitoral de estimação
Todo em argolas de alpaca
Esse eu pus no alforje
Junto ao quadro de São Jorge
Pra livrar de urucubaca
Nessas bruacas de couro vai
Tudo que me restou
Levo a Escritura Sagrada
Que a minha mãe me deixou
Que servirá de conforto
Pra esquecer o que passou
Preciso arrancar da mente
Alguém que nunca me amou
Mas não me estou revoltado
O homem sendo provado
É somente o que eu sou
Sem saber porque eu fui
Algo de perseguição
O sítio que eu formei
Eu perdi numa questão
A mulher que eu adorava
Me deixou pelo patrão
Acho que sua beleza
Despertou a ambição
Então pra não piorar
Resolvi me retirar
E optei pelo perdão
Dizem que não cria lodo
Pedra que sai do lugar
Mas estando na ladeira
Se quiser tem que rolar
Talvez chegando na grota
A água vai lhe encontrar
Mesmo sendo meio tarde
O lodo há de criar
Para trás eu deixo a dor
Vou em busca de amor
Eu não pretendo voltar
Olhei por cima do ombro
Disse adeus a minha terra
Deixei tudo que sonhei
Mas meu coração não erra
Aqui perdi a batalha
Mas não vou perder a guerra
Tive um triste desengano
Mas bom cabrito não berra
Fui traído, mas eu juro
Que tenho fé no futuro
E o passado a gente enterra