Um gadinho curraleiro
Pastando lá no varjão
Lá na vazante do rio
Roça de arroz e feijão
O meeiro tá contente
Com o viço da plantação
Ora canta, ora assovia
O trecho de uma canção
Também fico embevecido,
Pois nem tudo está perdido
Sertão ainda é sertão
Passarada ainda canta
Curió, corrupião,
Trinca-ferro, tangará
Sabiá, saracurão
Assanhaço faz regência
Canta no pé de mamão
Na capoeira fechada
Canta o príncipe azulão
O canto de uma perdiz
Me faz suspirar feliz
Sertão ainda é sertão
Nosso sertão sobrevive
Apesar da agressão
Da ganância dos humanos
Que destrói o nosso chão
Mas cá onde a motosserra
E o trator nunca virão
Não tendo ouro nem prata
Que a meu ver é perdição
Aqui a mãe natureza
Renova a sua beleza
Sertão ainda é sertão
Aqui no meu pé de serra
Finquei o meu coração
Os esteios fiz de paz
Pus poesia no eitão
Os baldrames pura fé
E os barrotes de ilusão
Cobri tudo de esperança
E desafio a solidão
Neste mundão de meus Deus
Vou vivendo os dias meus
Sertão ainda é sertão