Um gadinho curraleiro pastando lá no varjão
Lá na vazante do rio roça de arroz e feijão
O meeiro tá contente com o viço da plantação
Ora canta, ora assovia o trecho de uma canção
Também fico embevecido, pois nem tudo está perdido
Sertão ainda é sertão
Passarada ainda canta, curió, corrupião
Trinca-ferro, tangará, sabiá, saracurão
Assanhaço faz regência, canta no pé de mamão
Na capoeira fechada canta o príncipe azulão
O canto de uma perdiz me faz suspirar feliz
Sertão ainda é sertão
Nosso sertão sobrevive apesar da agressão
Da ganância dos humanos que destrói o nosso chão
Mas cá onde a moto-serra e o trator nunca virão
Não tendo ouro nem prata que a meu ver é perdição
Aqui a mãe natureza renova a sua beleza
Sertão ainda é sertão
Aqui no meu pé de serra finquei o meu coração
Os esteios fiz de paz, pus poesia no eitão
Os baldrames pura fé e os barrotes de ilusão
Cobri tudo de esperança, desafio a solidão
Neste mundão de meus Deus vou vivendo os dias meus
Sertão ainda é sertão
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)