Quando cai a tardinha eu machuco
A cordinha que tem no peito meu,
Pois ninguém já tocô mais do que eu
Esse amô que martela bem maluco,
Que maceta, sapeca, vira suco,
A Cordélia é que faz assim e assado,
É capaz de deixá esbodegado
Quem brincá de sê homi e não sê macho,
Eu que faço gemê em riba, em baixo:
Eu cantando martelo agalopado...
No galope da égua Serenata,
No martelo teimoso da viola,
É que vô do meu jeito entrá de sola,
No desejo que gato tem por gata,
Pois sô cabra que prega fogo e achata,
E a mué já conhece o meu riscado,
A Cordélia já tá com o trem inchado,
Encharcada já tá a tua orêia,
Martelada da boa não varêia:
Eu cantando martelo agalopado...
quem mexer na caixinha da Cordélia
pra bulir com as minha ferramenta
vai sentir que o martelo arrebenta,
meu serrote não é uma peça véia,
meu machado arranca até as teia,
se meu prego não deixa bem furado
o buraco ficou atrapaiado,
já que a chave encaixou em sua fenda,
a Cordélia pregada em minha lenda
eu cantando martelo agalopado...
Patativa contou em verso e prosa
a beleza das moça do nordeste
ensinando a qualquer cabra da peste
que a muié é das frô a mais cheirosa
conhecesse Cordélia, a minha rosa
ficaria sem jeito, encabulado
passaria a cantar num martelado
os encanto daquela formosura
ai de mim que me esbaldo na mistura
praticando o martelo agalopado...
Zé Limeira, poeta bem confuso,
emendou outra estrofe no martelo,
cutucou com a vara de marmelo
a porca que entrou no parafuso
mas a onça cantou que nem Caruso
e deixou o engonço apaixonado
pois mué é um bicho aparentado
c'os capricho de lua sem juizo
senta a pua, é disso que preciso
Cordélia no martelo agalopado...
Zumzumzum de abêia no zovido
É deveras pió que meu baruio,
Bão num é ir drumi com um baguio,
Encardido e cheirando a peixe frito,
Tem neguinho matando cão a grito,
O negócio é tê argúem do lado,
Coisa e tar, cutucá, sê cutucado,
A Cordélia já tá com o trem em brasa,
Imagine você sozinho em casa:
O sofrê do martelo agalopado...