No Quintal do Reco-Reco
Batucada combinada
Cada um arranja um treco
Pra fazer seu repeteco
Faz firula, faz intriga
Estica a rima na barriga
Leva um lero de chaveco
Põe o Sol num teco-teco
E esconde a Lua no caneco
No samba do reco-reco
Quem não dorme se sacode
E cada um arranja um treco
Pra fazer seu repeteco
Num completo troca-troca
De palavra dorminhoca
Cada um, direto e reto
Põe seu verbo predileto
No gogó do dialeto
(E rima eco com marreco, pra levar um peteleco)
No Quintal do Reco-Reco
Pra inspirar cada poeta
Todo mundo a língua enrola
Espicha o sol, alonga a lua
E vai tocar no fim da rua
Pra afinar sua viola
No Quintal do Reco-Reco
Numa esquina bem discreta
Cada estrela é uma menina
Que também só come rima
Bebe luz de lamparina
E estala ovo cor-de-rosa
De rosa pintada, no teto
De poesia, assim, servida
(em cada mesa uma comida)
No lugar do peixe-frito
Estrela e lua é tira-gosto
E o sol é posto no palito
Nesse samba do reco-reco
O prato do dia é composto
Sapo ensopado: não pode!
Mas pode virar pagode
Ensaiado, no sapatinho
(E o pato, a passo de bamba
Com papo de passarinho)
No tatibitate da festa
(bateria que não começa)
Na cuca, a cuíca completa
O tamborim que atravessa
Meu pandeiro
Em pandarecos
E dá-lhe então telecoteco
(sapato riscando o sinteco)
Na fuzarca desse boteco
E depois, com muito afeto
(no alfabeto do reco-reco)
Cada um arranja um treco
Pra fazer seu repeteco
E o poeta, pobre coitado
Com fome, refaz seu verso
E estica a rima na barriga
Come, enfim, poema assado
O verbo roncando na pança
(a musa atiçando a lembrança)
E no prato de sonho, a comida
Panqueca de sol bem passado
Omelete de lua, com escrita
Cozido de algum dicionário
Bolinho de vocabulário
Amor grelhado na chapa
E um bife com palavra frita!
No samba do reco-reco
Só sobra poesia no papo
E muita rima na barriga