Num receptáculo inquebrável
De apetites castrados
Tenta olhar pra fora mas só vê a si
Com olhos costurados
Me diz pra onde foi?
Havia um horizonte
Me diz pra onde foi?
Existo realmente?
Sempre como antes
Nada novo é novidade
Nada é novo de verdade
Sempre como antes
O retorno ao recomeço
O inferno são os outros
Sobre sua urna
Levitando em transe
Olhar estático, roubado
Cercado de abutres
Deitado em pregos
O faquir asceta
Só quer um momento
Que valha a pena
O quebra-cabeça enfim está montado
Mas a última peça não encaixa
A frustração de uma vida inteira
Dedicada a uma obra inacabada
Particionados
Em aquários solitários
Conversam movendo
Bocas por hábito
Replicar o mais do mesmo, fim-começo
Separar real e incerto em pesadelos
Sempre como antes
A palavra é glossolalia
Somos muitos nessa alma
Andando em brasas
Engolindo pecados
Olhar distante, impreciso
Peito mumificado
Deitado em pregos
O faquir asceta
Projeta-se ao céu
Sem medo do incerto
Sempre como antes
Frente ao poço de desejos
Sem saber o que queremos
Sempre como antes
Repetindo os mesmos erros
Acusando o imperfeito
Em sua urna
Nadando em cinzas
O invencível não se alcança
No invisível