Arrecebi uma carta
Que veio lá de Pardinho
Pra terminar uma empreitada
Que eu peguei com Ferreirinha
Pra buscar aquele mestiço
No campo do Espraiadinho
Aquilo no coração
Atravessou como espinho
Não tinha mais companheiro
Tinha que seguir sozinho
Por não ter outros vaqueano
Resolvi ir no redomão
Trouxe o potro na mangueira
Lacei e passeio no mourão
Arriei com garantia
Duas barrigueiras e o chinchão
Quando eu ganhei o arreio
O potro virou um leão
Preguei a espora no peito
Pra limpar meu coração
Sozinho pra aqueles campos
Bati todos maiadô
Achei o lugar fresquinho
Onde o mestiço posou
Segui a batida do boi
Que desceu pro bebedô
O mestiço vinha vindo
E de longe me avistou
Alembrei no Ferreirinha
E a coragem redobrô
O mestiço furioso
Pro meu lado ele partiu
Igual faísca de raio
No potro ele investiu
Joguei o laço de tirão
Que os tento até ringiu
A laçada fez um oito
Quando nas guampa caiu
O redomão veiacava
Virava de corrupio
Com o boi no chinchadô
Me custou pra pôr na linha
Queria limpar meu nome
Também o do Ferreirinha
Terminar aquele trabalho
Empreitada tão mesquinha
Labutei com o mestiço
Com o traquejo que eu tinha
E depois de muitos trabalhos
Que mostrei a ciência minha
Ao passar uma restinga
O potro e o boi levei
Naquele lugar tão triste
Que morto o rapaz achei
Soluçando de saudade
Uma cruz ali finquei
Com a ponta de minha faca
Estas palavras eu gravei
Descansa em paz Ferreirinha
Que a empreitada eu terminei
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)