José trabalhava na carpintaria
Cuidando zeloso da sua Maria
Maria esperava chegar sua hora
No ventre levava seu filho e Senhor
Mas eis que um decreto os arranca do teto
Que foi testemunha do mais puro amor
E assim foi que, antes de haveres nascido
Te viste banido pelo imperador
Por longas estradas que ainda não vias
Sem eira, nem beira, calado seguias
No ventre materno escondido rumavas
Pra onde mandava teu Pai lá no céu
Mas eis que em Belém não encontras morada
Maria, cansada, não pode esperar
E assim tu nasceste mirando as estrelas
No ventre da terra e distante do lar
A tua pobreza escondia um segredo
E naquele palácio um patrão teve medo
E dizem que o rei, paranóico e doente
Num gesto demente, mandou te matar
Mas eis que José pressuroso e aflito
Se asila no Egito pra te proteger
E assim foi que, ainda pequeno e calado
Te viste exilado pra sobreviver
Voltaste do exílio para a Galiléia
Que o filho do rei governava a Judéia
Na carpintaria da casa de aldeia
Não representavas perigo nenhum
José e Maria te viram crescendo
E era ali "um por todos e todos por um"
E assim foi que o fiel carpinteiro morria
E levaste Maria para Cafarnaum
A vida era dura, passavam os dias
O tempo chegara e de casa partias
Alguém perguntou-te em que lado moravas
disseste em resposta o que dizem milhões:
"Se queres saber o caminho que eu traço
Acompanha meu passo; vem ver e sentir"
As aves do céu e as raposas têm casa,
Mas eu, nem sequer, tenho onde dormir"
Eu olho os milagres de arquitetura
Colossos enormes rasgando as alturas
E penso no povo que sofre e padece
por falta de teto, de amor e de pão
E leio o decreto que tira do teto
porque não pagou seu patrão e credor
E tu que já foste pisado e esmagado
Exilado e humilhado...
Liberta teu povo, liberta senhor!