O poeta abre os braços e voa
A caminho do mar
Não do mar cheio de águas e conchas
Mas de um outro que há
Um mar enorme de gentes, de nomes
Ondas que vêm derramar
Seu movimento no peito dos homens
Marés de amar, desamar
Solidões que o poeta retrata
E desata a chorar
Será a falta de amor que maltrata
Ou o que mata é lembrar?
Vai reaver cada gota de pranto
Pra toda dor represar?
Vai desfazer dos seus cantos o encanto
Até desencantarolar?
Na cidade pequenina
A saudade foi morar
Tinha o sino da igrejinha
Tinha a sina de cantar
Tinha a pedra no caminho
E os mistérios do lugar
Tinha o mar, rodamoinho
E eu, sozinho, a desvendar
Pensamento que é feito de asa
Te liberta do chão
Inventando um caminho pra casa
Sobrevoa o sertão
Cidadezinhas tão pequenininhas
Visões de gaviãozão
Quando entro dentro do imenso das minas
Sou peixe-boi de arribação
Quem me diz qual montanha não cisma
De molhar os pés no mar
Ou que mar não quer ter lá de cima
A beleza de olhar?
Gira o dia a dia dos homens pequenos
O seu veloz carrossel
Sonhos e trilhas se enroscam no tempo
Onde é meu chão, é meu céu
Na cidade pequenina
A saudade foi morar
Tinha um clube na esquina
Tinha o mundo a transformar
Tinha o tronco onde um dia
Desenhei um coração
Tinha o mar que arrastaria
O que eu tinha em minhas mãos
O poeta, entre versos que fogem
Ama o que a vida dá
Porque a soma das obras de um homem
São espumas no mar
Ah! quanto tempo me sobra, quem sabe?
Ainda que tarde, virá
Meu mar de minas nos olhos não cabe
Mar, doce mar, de mirar
Mar, doce mar, marejar
Mar doce de admirar