Trabalhava num trampo de matar
Era caixa num banco do aguiar
Cheques, saldos, carnês e impropérios
Recebia e pagava com seu sangue
E o salário mal dava pra rangar
Certo dia o gerente lhe chamou
E, num tom indiferente, o dispensou
Ficou mudo, parado, cego e pálido
Mas saiu conformado com a sorte
E animou-se ao descer do elevador
E saiu procurando um novo emprego
Qualquer coisa que desse prá viver
Foi até um pai de santo se benzer
Pra ter sossego
Percorreu todo o "estado" de domingo
E a cidade... corria todo mês
E ele foi desmilinguindo
Não chegara a sua vez
Mas quando a fome bateu e a barriga roncou
Ele se desesperou
E pensou e chegou à conclusão
(tá pior, quem trabalha, que ladrão)
E bolou um grande plano, frio e lógico
E, numa tarde, entrou em outro banco
Com um revólver enrustido e o coração na mão
E chamou o tesoureiro e lhe entregou
Um bilhete que continha a sua dor
"somos homens que, da fome, fomos vítimas
E comigo tem mais sete e três lá fora
Pra acertar o vigilante e o contador"
Mas só era um truque esta tropa
E, logo, o tesoureiro se tocou
E, cheio de malícia, o convidou
Prum café na copa
E ele, puro e tolo, foi sorrindo
(talvez inda pudesse se empregar)
E a cilada foi surgindo
Não iria se entregar
E a polícia invadiu o recinto e fez
Com que embarcasse de vez