Aquela pobre vaquinha indo para o matadouro
Tão velha e magra que tem os ossos furando o couro.
Parece que ela adivinha que caminha para o fim
Se ela pudesse dizer, talvez nos diria assim
Meu boiadeiro, me levando à morte,
dei minha vida para lhe ajudar
Meu leite puro é que matou a fome de seus filhinhos,
que ajudei criar.
E os meus filhinhos você levou embora,
uns para o corte, outros pro estradão.
Puxando carro pelo chão do mundo,
de dor sangrando pelo seu ferrão.
Um obrigado eu esperava ouvir agora,
porém só ouço a chicotada da partida
Meu coração entristecido está chorando,
a ingratidão de quem tanto ajudei na vida.
Hoje estou velha pra mais nada presto,
a minha morte só lhe satisfaz
Vivi a vida só lhe dando lucro, sem o direito de morrer em paz.
Quando sua faca atravessar meu peito
e o meu sangue lhe escorrer na mão.
Por sua pobre ignorância humana,
meu boiadeiro, lhe darei perdão.
E, após a morte, eu serei seus passos,
no seu calçado feito com meu couro
Serei o cinto pra enfeitar madames,
serei a bolsa pra guardar seu ouro.
Desde o início da humanidade,
quando em belém viram a divina luz,
Com o meu calor, na fria manjedoura,
fui eu que um dia aqueci jesus.
Um obrigado eu esperava ouvir agora,
porém só ouço a chicotada da partida
Meu coração entristecido está chorando,
a ingratidão de quem tanto ajudei na vida.