Vou cantar a aminha vida do tempo que eu fui menino
Eu morava em Agicê, um lugar bem pequenino
Só vivia endefluxado espirrando e tossindo
Trabalhar eu não podia por ser fraco e franzino
Eu era um moleque tonto desses que só vive rindo
Mas o tempo foi passando eu fui me diferenciando
Fiquei um moço ladino
Quando completei quinze anos fiquei muito mais traquino
Se me falasse de um baile pra lá eu tava seguindo
Levava meu cavaquinho com as cordas reluzindo
Bebia umas quatro pinga e já ficava tinindo
Cantava minhas modinhas com o velho Zé Cirino
Mas depois eu me tocava porque ninguém me pagava
Veja que povo ladino
Eu só voltava pra casa quando o sol vinha saindo
Cambeteando pros caminhos por todo lado tossindo
Ainda parava um pouco na vendinha do Rufino
Lá eu ficava esperando a jardineira do Bino
Quando a condução chegava num canto eu tava dormindo
Ali mesmo eu ficava porque ninguém me chamava
Veja que povo ladino
O rapaz que bebe pinga perde a vergonha e o brio
O Rufino me falou, a jardineira passou
E você fez que não viu.
Minha mãe dava conselho e me tratava com mimo
Meu filho não beba mais pra não estragar seu tino
Faço gosto que você case com a filha do Justino
Certo dia me casei e mudei o meu destino
Veio uma filharada que até me desanimo
A mulher mudou meu jeito mais pra contar bem direito
Eu sou um moço ladino