Nos ombros de Deus avistei um menino
Sentado em pose de quem recebeu
Um sopro divino e tudo aprendeu
Num éter de barro azul cristalino
Montou seu reinado, se fez Vitalino
Nas crias celestes que faltam falar
Fiéis esculturas do próprio avatar
Retratos da vida, da simplicidade
Figuras singelas da modernidade
Num molde profundo na beira do mar
Eu mexo nas tintas do claro-escuro
E pego na sombra da noite que vai
Me agarro na flecha dum raio que cai
Acendo a fogueira pra ver o futuro
Na beira da lua eu me dependuro
Navego na proa do vento solar
Preparo as asas pra longe voar
Além das fronteiras das imensidões
Descanso no ventre das constelações
Renasço nas ondas na beira do mar
A tocha da vida carrego na mão
Por trás da cortina dos olhos do céu
A pilha do mundo fez um fogaréu
Ilhado nas cinzas dum grande vulcão
Tem vida em Marte, quiçá em Plutão
Nos grandes abrolhos do gelo polar
Tem outro planeta pra gente morar
Mas eu, por enquanto, prefiro viver
Na rua pequena que dê para ver
As ondas quebrando na beira do mar
A linha da vida é feito croché
Com Deus e agulha em colcha de retalhos
Que vai costurando pequenos atalhos
Por onde, às vezes, botamos o pé
Criando encontros pra Chica e Zé
Sem tempo nem hora, momento e lugar
Tá tudo acertado, ninguém vai mudar
Já vem preparado sem nosso conceito
Às vezes demora, mas fica bem feito
A sorte lançada na beira do mar