Cantador abre portas do castelo
Quebra o trinco, se apossa feito dono
Dobra o rei, a rainha e vai pro trono
A espada de guerra, seu cutelo
Põe farinha dourada pra vitelo
Sem os bodes jamais emagrecer
Toma conta do sino com prazer
Botas rimas e primas na bitola
Tira leite das cordas da viola
Pra cantar e o repente florescer
Não se cansa da luta, perde o sono
Quando canta em qualquer pé-de-calçada
Ver o povo sorrindo lhe agrada
Nas tiradas mais leve que carbono
Nas pesadas, endoida seu patrono
Faz o tempo parar e envelhecer
Ganha pouco, mas dá para viver
Nessa prova de fogo não tem cola
Tira leite das cordas da viola
Pra cantar e o repente florescer
Vem o sol e a poeira da estrada
Solidão, o cansaço e a saudade
As lembranças de casa, mocidade
Sua cama, a esposa e filharada
Viajante sem eira, sem morada
Mesmo assim não se cansa de correr
Meio mundo pra quem quiser lhe ver
Desfiando repentes em marola
Tira leite das cordas da viola
Pra cantar e o repente florescer
Tem nas feiras, seu palco à vontade
Uma roda de gente ao meio dia
Encantada, sorrir na cantoria
Mostra bem o que é felicidade
Um sorriso tirado sem maldade
Faz o povo em paz lhe agradecer
A bandeja se enche no ferver
Da cantiga melhor que radiola
Tira leite das cordas da viola
Pra cantar e o repente florescer