Vi na lira do canto ancestral
Meus avós empalhando lobisomem
Os imensos novelos que consomem
A frieza do crime passional
A distância do mundo sideral
A cantiga do velho sabiá
Beija-flor, papagaio, carcará
João do Vale compondo com Alceu
Cantador de viola feito eu
Nunca mais esse mundo esquecerá
O meu sonho é fazer com que o homem
Reconheça seu frágil predomínio
Fique alerta pra tanto extermínio
Pois senão as riqueza todas somem
As crianças e velhos nada comem
Só a pedra, o engenho moerá
O cipó dos castigos baterá
Nas costelas de quem não entendeu
Cantador de viola feito eu
Nunca mais esse mundo esquecerá
Pela terra expresso meu fascínio
Faço tudo pra ver seu povo bem
Na barriga do solo de onde vem
Alimento pra seu raciocínio
Como achamos que temos o domínio
Devoramos a flora, fauna e ar
Sem pensar no manhã que chegará
Quando vimos, a vida já morreu
Cantador de viola feito eu
Nunca mais esse mundo esquecerá
Colocamos a culpa no além
Pra que Deus faça tudo pela gente
Dessa forma não vamos para frente
Só a fé sem trabalho não convém
Cada um torna seu próprio refém
Esperando sentado, o que é que há!
Desse jeito a pobreza reinará
Só no fim damos conta do que deu
Cantador de viola feito eu
Nunca mais esse mundo esquecerá
Dessa terra nós somos um pingente
Enfeitando a pele e o couro dela
Um pontinho esquecido na lapela
Grão de areia perdido na enchente
Fico vendo por trás da minha lente
À procura do sonho que virá
Nossa bola de gude, o que fará
Se mexerem demais no bucho seu?
Cantador de viola feito eu
Nunca mais esse mundo esquecerá