Sou um guitarreiro
Que canta de toda goela
E as ânsias verde amarelas
Tremulam em minha estampa
Sou ave rara que solitária resiste
E por isso meu canto é triste
Como agonia de pampa
Tenho pra pátria
O mais sagrado respeito
E no potreiro do meu peito
Rincha um coração feliz
Pingo encilhado
Na barranca da fronteira
Vou passar a vida inteira
Pastorejando o país
Igual caliandra
Que só canta em liberdade
Eu vivo na soledade
E rondo este chão com empenho
De lança afiada
E sentimento febril
Anda comigo o Brasil
Na anca de um pingo que eu tenho
Meu bisavô
Que era um quixote missioneiro
Fez este chão brasileiro
Que é uma flor que não se esvai
Por isso eu que sou cantor das pulperias
Rego a flor todos os dias
Com a água do Uruguai
Olho lá longe
Uma estrela no lampejo
E me parece que ainda vejo
No garrão desta fronteira
A indiada potra
Que afiando a ponta da lança
Deixou o Rio Grande de herança
Pra comunhão brasileira
De céu e campo
É minha paisagem interior
Por dentro eu tenho um corredor
Para estradear antigas auras
Sou quebra freio
Vaqueano das madrugadas
E gosto de pedir boladas
Aonde afrouxam os mais tauras