Eu não sou tatu peludo
Pra viver dentro da toca
Mas para honrar este pago
Me enterro que nem minhoca
Tapeio o chapéu na nuca
E se vão lidar co'a potrada
Quando laçarem o mais maula
Eu chego e peço a bolada
Dou um fio nas duas rosetas
Deixo saltando faísca
Pois ferramenta que eu uso
Quando não corta belisca
Me agrada carreira grande
China e peleia de mango
E de ver uma oito soco
Se desmanchar num fandango
Caso o gaúcho morrer
Depois de um grande entrevero
Vai ficar nas pupilas de deus
Como um quadro derradeiro
Um índio bem à cavalo
Com um sapukay de guerreiro
Abrindo o peito de taura
No lombo dum caborteiro
E o rio grande se guasqueando
Na goela de um missioneiro
Desde que eu fui desmamado
Neste chão que ainda é meu
Ouço os lacaios dizerem
Que o gaúcho já morreu
Pra quem fala que eu morri
Dou de presente parceiro
Um bocal "sujo'' de sangue
E da baba dum caborteiro
Tenho orgulho desta terra
Castigada da punilha
Onde ainda se houve o grito
Dum centauro na coxilha
Caso o gaúcho morra
E um pranto triste desande
Faça uma prece crioula
Depois escreva e me mande
Quem sabe deus no galpão
Lendo essa prece ao matear
Diga à São Pedro: O Gaúcho
Precisa ressuscitar
Talvez num bagual do céu
Lindaço onde quer que ande
Me mande eu voltar pra pampa
Beijar os pés do rio grande