Poema Canto Dos Oprimidos
(4o anos da morte de Martin Luther King Junior)
Não existe preconceito, o problema é que o negro
Quer deixar à senzala
Quer vir sentar na sala
Quer ter direito a fala
Não existe preconceito, o problema é que o negro
Quer deixar à favela
Não quer viver de esmola
Não quer deixar à escola
Não existe preconceito, o problema é que o negro
Não quer descer ladeira
Não quer resto de feira
Não quer comer poeira
Não existe preconceito, o problema é que o negro
Não se dobra com chicote
Não se cala com acoite
Não é servil à elite
Não existe preconceito, o problema é que essa negra
Não sacode essa cadeira
Não desce à ladeira
Não satisfaz vontade passageira
Não existe preconceito, o problema é que essa negra
Freqüenta o baile de gala
Sabe muito bem o que fala
Não perde seu tempo com novela
Não existe preconceito, o problema é que esse negro
Deixou seu lugar comum
Não é mais qualquer um
Não se dobra a senhor algum
Não existe preconceito, o problema é que esse negro
Atravessou à margem
Mais não esqueceu sua origem
E recusou à maquilagem
Não existe preconceito, o problema é que esse negro
Não se engana com mentira
Que marginaliza sua cultura
E a verdade transfigura
Não existe preconceito, o problema é que esse negro
Resgatou sua história
Tem uma África na memória
E um canto de vitória
Não existe preconceito, o problema é que o negro
Não sangra mais no tronco
Não se engana nem um pouco
Não se vende nem quer troco
Não existe preconceito, o problema é que o negro
Reclama, pede por mudança
Não quer mais saber dessa injustiça
E não dá mais para olhá-lo com indiferença
Não existe preconceito, o problema é que o negro
Quer sua liberdade
Sua luta, sua oportunidade
Seu direito à felicidade
Com prevê a constituição
Se o negro aceitasse sua condição
Se ficasse onde estão
Se o negro aceita à favela
Que é uma extensão da senzala
E vivesse com que lhe dão de esmola
Se não reclama seu direito
Não existiria preconceito
Porque aceita o que lhe é dado, que é o resto
E não o que lhe é de direito
Meus versos não tem pele, não tem cor
Meus versos tem humanidade e amor
Meus versos é o canto do oprimidos
Meus versos é o grito dos injustiçados