Marculino era porreta,
traquinas, espoleta,
alegria do sertão.
Seta fillhos com Serafina,
de língua ferina,
mas debom coração.
Felizes eram, eu dou fé,
num rancho de sapé,
no Arraial do Ribeirão.
Pra criar o bando de meninos
só vivia indo e vindo
trabalhando no sertão.
Então, ele agora ía
vender o dia
nas lavouras de café,
na porteira o chororô...
Chorou menino,
Chorou homem e mulher.
Três meses longe foi eternidade.
Mas a saudade
ía já virar carvão.
No pau-de-arara retornava,
e a lua alumiava...
Ía já ver o sertão.
Bom pai de família e ordeiro
ganhou dinheiro
nas terras da garôa
a mala -um saco de estopa-
entupido de roupa
pros guris e a patroa.
Foi tanto que Guarani latia...
Foi folia que a falilia deu de pé
Na porteira o risoriu!
Sorrui menino,
sorriu homem e mulher.
E Serafina, doida no mormaço,
deu-lhe um abraço
toda cheia de paixão.
Mas ele fez a voz tremer e disse:
"Ocê nem percisa
abraçá não!
Um cascavé, serpente dandada,
me mordeu lá, no lugá...
Poie é, muié, intonce eu lhe digo:
nós agora é só amigo,
nós num vai mais vadiá!"
"vem não!" foi um reboliço.
"Não vem com isso de ser só amigo, não!
Cai fora, imprestáve, condenado,
sivergonho, infuzado,
Pegue logo o istradão!"
A meninada o saco já abria,
no rancho só se via
roupa ir de mão em mão
"Meu bem!" Disse o matreiro.
"Vem cá meu chêro,
Num tem serepente não!"
E, aí, os dois de abraçaram,
no terreiro se beijaram,
e ela disse assim:
"Danadim! Home tão artêro,
Cachurrim, seu traquinêro,
que choque deu ni mim."
Em paz a prole já dormia
já sabia
o fim da cena que passou.
Paixão é coisa tão malina...
E Serafina
o candeeiro apagou.
( E aí foi só amor.)
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