Nobre cardápio crioulo das primitivas jornadas
Nascido nas carreteadas do Rio Grande abarbarado
Por certo nisso inspirado, o xiru velho campeiro
Te batizou de Carreteiro, meu velho arroz com guisado
Não tem mistério o feitio dessa iguaria bagual
É xarque, arroz, graxa, sal
É água pura em quantidade
Meta fogo de verdade na panela cascurrenta
Alho - cebola ou pimenta, isso conforme a vontade
Não tem luxo, é tudo simples, pra fazer um carreiteiro
Se fica algum marinheiro de vereda vem à tona
Bote - se houver - manjerona, que dá um gostito melhor
Tapiando o amargo do suor que
Às vezes, vem da carona
Pois em cima desse traste de uso tão abarbarado
É onde se corta o guisado ligeirito, com destreza
Prato rude, com certeza
Mas quando ferve em voz rouca
Deixa com água na boca a mais dengosa princesa
Ah! Que saudades eu tenho
Dos tempos em que tropeava
Quando de volta me apeava
Num fogão rumbeando o cheiro
E por ali - tarimbeiro, cansado de bater casco
Me esquecia do churrasco saboreando um carreteiro
Em quanto pouso cheguei de pingo pelo cabresto
Na falta de outro pretexto indagando algum atalho
Mas sempre ao ver o borralho onde a panela fervia
Eu cá comigo dizia: Chegou de passar trabalho
Por isso - meu prato xucro, eu me paro acabrunhado
Ao te ver falsificado na cozinha do povoeiro
Desvirtuado por dinheiro à tradição gauchesca
Guisado de carne fresca, não é arroz de carreteiro
Hoje te matam à Mingua, em palácio e restaurante
Mas não há quem te suplante
Nem que o mundo se derreta
Se és feito em panela preta, servido em prato de lata
Bombeando a Lua de prata sob a quincha da carreta!
Por isso, quando eu chegar
Nalgum fogão do além-vida
Se lá não houver comida já pedi a Deus por consolo
Que junto ao fogão crioulo
Quando for escurecendo, meu mate -amargo sorvendo
A cavalo nalgum tronco, escute, ao menos, o ronco
De um Carreteiro fervendo