Um era taura e se perdeu por taura
Outro era maula e se perdeu por maula
Quebras demais para viver em jaula
Com muita raça pra esconder a cara
Dois irmãos gêmeos, um igual ao outro
De olhares gêmeos com fulgor de auroras
Mais parecidos do que um par de esporas
Num par de botas de garrão de potro
O pai, um tigre que a branquear ficara
Entre ossamentas, num tendal de guerra
A mãe chirua com sabor de terra
O lar, um rancho, santa-fé e taquara!
Um era maula, mesmo sendo taura
Outro era taura mas não era maula
Mas não nasceram pra viver em jaula
E nem tampouco pra esconder a cara
Por isso um dia, quando o comissário
Chegou no rancho pra prender o maula
Achou dois tigres numa mesma jaula
Junto à mãe velha, deusa do santuário
Saltaram fora, pra livrar das balas
A mãe querida que os amamentara
Caiu ferido, junto à porta, o taura
Caiu já morto, logo adiante o maula!
De toda a parte vinham fogonaços
E os dois ficaram mais iguais na morte
Pois mesmo tigres pra enfrentar a sorte
Não tinham breves pra atacar balaços!
Do par de tauras tombou na luta
Restou somente, sem fulgor de auroras
Mais parecidas do que um par de esporas
Um par de cruzes, de madeira bruta!
Por isso à noite nunca faltam luzes
Defronte ao rancho onde a saudade habita
É a mãe dos gêmeos que ficou solita
E acende velas, pra velar as cruzes!