Ao Fortim dos lusitanos
Levantado por Don Diogo
Que queimava em cada fogo
Um alerta aos castelhanos
Hoje acorre a los hermanos
Irmãos gêmeos de lonjura
E o gaúcho se aternura
Rodeando a gloriosa meca
No Bagé de Santa Tecla
Guarda fogo da cultura
Andantes de três distâncias
Sem rumo nem residência
Em beber pátria e querência
Com a peonada das estâncias
Gineteando as mesmas ânsias
De pampas abarbarados
Eles foram deserdados
Mas permanecem herdeiros
Na comparsa de lindeiros
Que nunca foram domados
Potrada de clina ao vento
Que faz tambor no varzedo
Acordando desde cedo
Os ecos do pensamento
Os fogões do firmamento
Se apagaram na lagoa
A garça branca revoa
Porque o dia se avizinha
Junto a fronteira rainha
Onde cruza os guenoas
Das bandas de Uruguaiana
Vem apontando um moreno
E o mundo fica pequeno
Numa toadita pampeana
Macia como badana
Que pegou cor no caminho
Trás peçuelos de carinho
Prá os guris do mundo inteiro
E a bênção do Avô Campeiro
No canto de passarinho
Junto a porteira entre aberta
Chegam andantes, tropeiros
Marco Aurélio e Os Posteiros
Buscando pousada certa
Na mesma várzea deserta
Onde andaram os charruas
Com fletes, lanças e puas
Que não usavam pra enfeite
E o cantor João Chagas Leite
É o Gaudêncio Sete Luas
Sobre a cancha inspiradora
Que de ternura se veste
Emponchada azul celeste
Como se uma estrela fora
A calhandrita cantora
É um hino primaveral
Quando Maria Cabral
Indulça o silêncio amargo
No estilo de Cerro Largo
Da velha banda oriental
E a cancha se para pouca
Para os "de aquí y de aja"
Quando o Cenair Maicá
Desfiando de boca em boca
Da linguagem de voz rouca
Que aos poucos vai amaciando
No fio d'água borboteando
Na tonada musical
Desse Duo Manancial
Trazido de contrabando
A guitarra e a cordeona
Contrataram sociedade
Pra cantar a liberdade
Dessa pampa chimarrona
Tecla, botão e bordona
Incendiando o campo aberto
Nesse arremate mais certo
Que as máximas do Confúcio
Uma se amasiou com o Lúcio
Outra vive com o Gilberto
Da grande pátria Argentina
Berço de tantos guenodos
Una canción para todos de mala sina
Um livre sacode a clina
De insubimiça e selvagem
Pode mudar a paisagem
Mas a entonação é a mesma
Pois Dante Ramon Ledesma
Transmite sempre a mensagem
Negro de sorriso aberto
Como sinuelo de pampa
Revives inteira estampa
Do taita escravo liberto
Buscando o caminho incerto
Dos atavismos da raça
E a cordeona se adelgaça
Em choramingos macios
Pra cruzar por entre os fios
Da guitarra do Ortaça
Hoje há um vento de amplitude
Varrendo este continente
Covil, passado e presente
Na alma da juventude
Que já ninguém mais ilude
Porque descobriu quem é
E os herdeiros de Sepé
De Rivera e San Martin
Guardam o velho fortim
De terra e pátria em Bagé