São quatro cernos de angico
Falquejados nas minguante
Que vem trazendo por diante
Nosso tesouro mais rico
Que há três séculos e pico
Os centauros nos legaram
Memórias que não gastaram
Nos entreveiros da infância
E olfateando na distância
Algumas que se extraviaram
Os quatro são missioneiros
Unidos num mesmo abraço
São tentos do mesmo laço
Brasas dos mesmos braseiros
Chispas dos mesmos luzeiros
Que onde um vai o outro vai
Nenhum pesar os contrai
Nem desencanto nem mágoa
Os quatro beberam água
Nos remansos do Uruguai
Um deles é o Pedro Ortaça
Nascido lá no pontão
Num dia de cerração
Tapado pela fumaça
Cantor de fôlego e raça
Do mais crioulo recurso
Mais agarrado que um urso
Nas seis cordas da guitarra
Andou fazendo uma farra
Na bailanta do Tibúrcio
Outro é o Noel Guarany
Do manancial missioneiro
Que benzeram em terneiro
Com leite de curupy
Tropeando, desde guri
Nunca cai em "aripuca"
Mais brabo de que mutuca
Vem do berço de Sepé
E andou morando em Bagé
Na baixada do Manduca
Outro é o Cenair Maicá
Do canto bárbaro e doce
Que com certeza extraviou-se
Da flor do caraguatá
Crioulo, também, de lá
Das barrancas do Uruguai
Saiu quebra, igual ao pai
Com maçaroca na clina
Já cortou trança de China
Nos bailes do sapucai
Outro, outro apenas pajador
Misto gente e urutau
É o Jayme Caetano Braun
Do velho Rio Grande em flor
Cantando coplas de amor
Sem se importar com os espinhos
De tanto trançar carinhos
Foi se enredando nas tranças
E hoje tropeia lembranças
Que juntou pelos caminhos!