Morreu o velho chô-égua
No rancho, junto à lagoa
Longe rinchava uma égua
Distância de meia-légua
Vinha branqueando a garoa!
De onde saíra esse vago?
Gente dali, não sabia
Ao que parece era cria
Parida num outro pago
Desses que, acolhera um trago
À moda dos ancestrais
Só pelo gosto, no mais
De reviver um afago!
História igual a de tantos
Sem rumo nem geografia
Como traste sem valia
Que se encontra pelos cantos
Cultores de estranhos santos
Escravos das próprias baldas
Carregando nas espaldas
As mágoas de não sei quantos!
Com os olhos entrecerrados
Junto ao fogão de espinilho
Revivia o andarilho
Seus mil romances passados
Cruzando nos descampados
Entre paisano e milico
Índio pobre, sempre rico
Muito mais duro que o aço
Um poncho enleado no braço
E adaga de palmo e pico!
E a si mesmo se revia
Nos tragos de sonolência
Quando era rei da querência
Nas canchas de pulperia
E nas coplas que media
Pra não perder o embalo
Mais entonado que um galo
Quando boleava o garrão
Domando, dava a impressão
Que era um cacique à cavalo!
Agora, vive de changa
E ajutório nas estâncias
Quem se curtiu nas distâncias
Não sente o peso da canga
Saudade de alguma tianga
Que ao longe, fica mais larga
E se para mais amarga
Que espinho de japecanga!