Sou peão de estância encruado
Nasci num catre de barro
Por isso aqui me agarro
Cantando a um pago sagrado
Fui benzido e batizado
Na fumaça do retoço
Que me fez desse alvoroço
Gaúcho de corpo e alma
Templado na xucra calma
Sou mescla de carne e osso
A ânsia que me atormenta
Me provoca volta e meia
Sinto que em mim corcoveia
Uma gana pacholenta
A minha estampa sustenta
Além de um grito de guerra
O sarandeio da terra
Que o guasca sente nas venta
Brotei do chão das boconas
Cresci sobre as sesmarias
Desdobrando a geografia
Meus apegos vieram a tona
O compasso das choronas
E o entrevero de guampas
Fizeram da nossa pampa
A terra mais macharrona
Nas boconas virei gente
Por que nelas fui criado
Ouvindo o berro do gado
E o murmúrio das enchentes
Bebi água das vertentes
Na copa do meu chapéu
Ouvi rumores no céu
Era piazito e me lembro
Dos temporais de setembro
Santa Rosa e São Miguel
E eu por quebra me agrando
Abraçado na guitarra
Pra cantas potros e garras
E um veiaco se bolcando
Um rodeio se empurrando
Na estronca da porteira
E a cachorrada ovelheira
Num vai e vem se queixado
E aqui me entrego a esta ânsia
Que tenho de andar alçado
Com meu sombreiro tapeado
Para encurtar a distância
Porque a inocente ganância
Que junto ao índio se agrupa
É o que saca na garupa
A alma de um peão de estância