Meu baio matava a sede
No lado de cá do rio
Sorvendo os últimos lumes
Das tardes quentes de abril
O chuvisqueiro das rédeas
Me repontou, em segredo
Quanto mais água elas bebem
Maior a sede por sebo
Solito, um homem pescava
Na margem oposta à minha
Tantas vidas por um fio
Na outra ponta das linhas
O tilintar dos cincerros
Lembrava uma serenata
Do rio cantando saudades
Chamando o luar de prata
Vindo do mato costeiro
Um pássaro, em revoada
Cruzou a frente do pingo
Se indo direito à aguada
Até o baio espantou-se
Com todo aquele rumor
E viu um peixe voando
No bico de um pescador
Partiu um filho do rio
Com o martin-pescador
Se confundindo às estrelas
Que lhe roubavam a cor
Mas aos saberes humanos
Que também nascem alados
Ate um lambari sem vida
Pode pescar um pintado
E, outra vez, o martim
Acomodou-se pra lida
Num galho de sarandi
Que é seu ponto de partida
Por certo, na tentativa
De repetir o momento
Que o bico se faz anzol
Para fisgar o sustento
Vindo do mato costeiro...