Cruzando a várzea do arroz e o sola pino da tarde
Estende a tropa polenga na estrada entre a lavoura
Um assobio se afina, é quase um peão no costado
E a rédea troca de lado nos escarceios da moura
Um João Grande abre o manto, no seu trono de maracha
Cuidando, ao longe, um avestruz que se enrredou na porteira
O arrozal deita o topete por onde o vento fareja
E um horizonte verdeja neste naco de fronteira
Pra quem vem tocando a vida, buscando pasto pro gado
Tem os olhos marejados do mesmo sal da lagoa
A seca parece um fado, se repete sem perdão
E, n'outro lado do rincão, a voz da fome ecoa
Tomara que o veio d'água não traga o sal da estiagem
Pra que cada grão não seja uma lágrima do campo
E, num espelho de canhada, nuvens polengas tranquiando
Se adelgacem, derramando chuva farta em vez de pranto
Coragem a estes homens, plantadores de esperança
Que, pisando suor na verga, fazem seu tempo e família
E pr'aqueles que florescem em cada sol que desponta
Entregando tropa pronta com a graxa destas coxilhas
Pra quem vem tocando a vida, buscando pasto pro gado
Tem os olhos inundados de sonhos que são plantios
Tanto no braço do arado, como na rédea do pingo
Vê uma colheita surgindo, num mundo ao seu feitio.