No passo do burro morto
Um par de amigos campeiros
Voltavam de um entrevero
Já bem alta madrugada
Ao entrarem na picada
Os dois se viram no meio
Dum medonho tiroteio
E não podiam ver nada
Contavam que foram seis
Que tocaiaram os viventes
Estampido e chumbo quente
Que vinham de todo lado
E, num momento delicado
Onde não basta ter fé
Um deles ficou a pé
Teve seu pingo baleado
O outro perdeu a calma
Vendo o fim da munição
E resolveu a situação
Num gesto de covardia
Ainda ouviu, quando fugia
Que o companheiro acuado
Gritava no seu costado
E a sua garupa pedia
O maula negou ajuda
E conseguiu escapar
Ali, naquele lugar
Um taura foi massacrado
E, depois, foi encontrado
Com balas no corpo inteiro
Por culpa do companheiro
Que o teria abandonado
Juram alguns que já sentiram
Bem na cruzada do passo
Algo assim, como um abraço
De alguém que se engarupou
Nunca ninguém enxergou
Talvez a alma sofrida
De quem ali perdeu a vida
E ainda não se conformou