Eu toco viola, mas não por esmola
Não tive escola, minha idéia é fraca
Sou caboclo feio, tenho até receio
Se olho no espelho o medo me ataca
Por ter essa fama o povo difama
E se alguém me chama de cara de vaca
Fico descontente e bebo aguardente
E amanheço doente curtindo a ressaca
É desde pequeno que eu vivo sofrendo
Só ando bebendo e batendo matraca
A melhor bebida é a pinguinha ardida
Nunca tem saída nas bebidas fracas
No bar do Clemente briguei com o Vicente
Caboclo valente que nem jararaca
Apanhei calado, saí disfarçado
Todo rabiscado de ponta de faca
A noite que eu bebo eu não dou sossego
Na hora que eu chego na minha barraca
Ninguém abre a porta, eu dou uma volta
No fundo da horta arreio a bruaca
Levanto atordoado com os olhos parado
E o rosto inchado parece uma jaca
No mês de janeiro dormi no terreiro
Fiquei sem dinheiro, perdi a guaiaca
A danada pinga sobe na moringa
A patroa me xinga e logo me ataca
Cabocla nervosa é mesmo teimosa
Com duas, três prosa nós já se tarraca
Com franqueza eu digo, parece um castigo
Toda vez que eu brigo eu saio de maca
A luta violenta bebum não agüenta
E a corda arrebenta na parte mais fraca
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)