Eu vinha de Mato Grosso
Montado no meu Picaço
Lenço branco no pescoço
E cem léguas de cansaço
Quando eu vi a Madalena
Debruçada no terraço
Esqueci de minhas penas
E o cavalo do seu passo
A madrinha ia adiante
E a culatra retirada
Repiquei o meu berrante
Pra reunir a boiada
Percebi que minha sina
Estava ali rodilhada
Como a cascavel traiçoeira
Armando sua laçada
O sol ia se escondendo
A boiada num bagaço
Na campina foi parando
Que nem mosca no melaço
Olhei de novo a morena
Na distância do meu laço
Meu coração nessa hora
Bateu fora do compasso
Fui dizer adeus pra ela
Foi o meu pior momento
Perguntei se ela queria
Me aceitar em casamento
Me respondeu com desprezo
Foi grande meu desalento
Virei o macho na espora
Num triste aborrecimento
Sou boiadeiro de fama
Com nada me embaraço
Mas essa mestiça arisca
Desviou meu tirão de laço
Depois daquele abandono
Pra mim o mundo morreu
Eu nem sei aonde ponho
Este amor que Deus me deu
Meu Picaço anda tristonho
Da boiada se esqueceu
Nunca mais vi a cabocla
Perdi tudo que era meu
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)