Na boca do povo correu
Num destes fundões do fim do mundo
Que vinha num mouro
Um paisano com ares de viramundo
Há muito corria na boca de muitos
Que um do rincão tinha dito
Que em algum lugar tava escrito
Que ele viria
Na boca do povo - a voz de Deus
Corria pelo rincão do fundo
Que o homem que vinha num mouro
Vinha, vinha virar o mundo
Corriam todos do rincão
A pagar promessas, apagar pecados
A lavar as mãos e, então
Esperar pelo mundo mudado
O homem do mouro era só um homem
Que sabe da força que os homens tem
E quando sabem da força de serem tantos
Quantos precisam para ir mais além
O homem do mouro era só um homem
E um homem só não detém
A força de tantos quantos
É preciso pra ir mais além
Então o mundo amanheceu igual
Amanheceu exatamente igual
Não seria um Deus
O que vinha num mouro, afinal?
Maldizia o viramundo
A voz de Deus - na boca do povo
Alguém tinha dito - estava escrito
Agora era esperar de novo