Quando nasce um guitarreiro
Ocorrem estranhos fatos
Piscam as luzes dos palcos
Pelos antigos teatros
Nos auditórios cerrados
Escuros na sua rotina
Um vento entra na sala
E faz bailar as cortinas
Quando nasce um guitarreiro
Um poeta encontra sua rima
De uma guitarra guardada
Por nada, rebenta a prima
Em algum canto do mundo
Mais cedo, o dia amanhece
E os galos soluçam fundo
Como rezando uma prece
Um cantor fere uma nota
Que nunca pôde alcançar
E há um homem que se emociona
Ouvindo o canto do mar
Quando nasce um guitarreiro
Sobe poeira nos caminhos
E os andejos e viageiros
Já não se sentem sozinhos
E os andejos e viageiros
Já não se sentem sozinhos
Quando nasce um guitarreiro
No ermo do descampado
Um braço de alambrador
Simbra seis fios de aramado
E embora não se perceba
Ao apertar-se as basteiras
Tine o aço dos estribos
Na argola das barrigueiras
E se este musiqueiro
For guitarreiro crioulo
Então num fogão campeiro
Das cinzas, revive o fogo
E dum estralo da lenha
Salta uma brasa, um clarão
Deixando incensos de cerne
Em um ar de anunciação
Deixando incensos de cerne
Em um ar de anunciação
Quando nasce um guitarreiro
No ermo do descampado
Um braço de alambrador
Simbra seis fios de aramado
E embora não se perceba
Ao apertar-se as basteiras
Tine o aço dos estribos
Na argola das barrigueiras
Tine o aço dos estribos
Na argola das barrigueiras
Quando nasce um guitarreiro
Pra terra nasce um carinho
Aonde a vida se agarra
O corpo, preso ao caminho
E a alma, a alma presa a guitarra