Uma lágrima encheu os rios da face
do bisavô ao visitar o seu passado...
Entre lembranças dissipadas pelo tempo
Iguais retratos que envelhecem desbotados
E na cacimba de água clara das retinas
Se refletiu aquele tempo que se foi
Do povo índio defendendo a sua terra
Até os tropeiros das canções do Era-boi
Falou de escravos derramando suor e sangue
Cercas, mangueiras levantando em pedras mouras
De mãos rurais antes de lanças e garruchas
Pelos galpões firmando pulso nas tesouras
Cordas sovadas pelas mãos de homens campeiros
Simbrando golpes no sustento dos rituais
As nazarenas nos garrões dos domadores
E as boleadeiras em mundéus para os baguais
“E através do espelho da alma pude ver
que o ancestral e o campo sentem a mesma dor
feito uma tropa que vai gastando léguas
sem saber o que há no fim do corredor ”
Mirando largo o horizonte dos meus olhos
Senti o campo maltratado em sua essência
Falsos herdeiros reclamando a velha terra
Sem nem notícias das origens ou querência
E viu que os homens continuam sendo escravos
Que há fios de arame no lugar de pedras mouras
Que mãos ociosas erguem foices e bandeiras
Enquanto isso enferrujam-se as tesouras
Viu os arreios encilhando cavaletes
Sovéus e laços sem espaço pra os pealos
Que sem garrões as nazarenas silenciaram
E as boleadeiras se esqueceram os cavalos
E através do espelho d'alma pôde ver
Que a tropa anda e mais comprido é o corredor
E que o campo embora guapo se ressente
E sem querer segue sofrendo a mesma dor.