Eu aprendi a encilhar com meu pai pondo o buçal
Apertando bem a cincha depois largando pra mim
De esporinhas sonoras iguais as da gente grande
Que se arrastam nas pedras lá do chão de onde vim
Devia ter ido mais nas manhãs de campereadas
Ouvido mais as histórias contadas pelos galpões
Aproveitado meu tempo de guri sem muita pressa
Desafiando o silêncio das sestas e orações
E foram dias lindaços que nunca mais vão voltar
Amizade de criança que aos poucos é concedida
Rigidez quando é preciso larguezas em campo aberto
E uma paciência de pai que compreendemos com a vida
Foram tardes de brinquedo, serviços banhos de arroio
Convivencia de silêncios e palavras por dizer
Eu tive amigos na vida que se perderam eternos
E amizades que o tempo nunca mais vai desfazer
Quantos "nãos" tive na vida pra ter um "sim" bem medido
Quantos erros e acertos dividimos nós os dois
O tempo não nos explica o amor sem ser amado
Que não devíamos nunca deixar tanto pra depois
E foram tarde de campo estendendo olhares longe
Que sem saber aprendia a ser o homem que sou
Hoje encilho aperto a cincha com mais confiança no braço
Por saber que os meus cavalos me trouxeram aonde estou
Como voltar a esse tempo se não for com outra infância?
Os que agora me seguem e ouvem histórias comigo
Como esquecer os meus olhos atentos aos do meu pai
Agradecendo em silêncio por ser meu melhor amigo