Quando assinalo as orelhas, dos recuerdos terneirada
Vejo Fidelço Pechada, com sol e pampa nas veias
Alma solta sem maneias, poncho de gola vermelha
Dois pingos, uma parelha, das de tourear delegado
E um nagão cabo pintado com tinta de "marcá" ovelha.
Desceu em ti, Fidelço Pechada, pra sempre, uma noite longa...
Eu te aparto esta milonga, com uma orelha assinalada.
Naquele perfil taurino, ventava sempre um assobio
Murmúrio de pasto e rio, cincerros do seu destino
Assim o vejo, ladino, com um cético saber
E em seu crioulo parecer, falquejado nos fogões
O mundo tinha indagações, que ninguém vai responder.
Desceu em ti, Fidelço Pechada, pra sempre, uma noite longa...
Eu te aparto esta milonga, com uma orelha assinalada.
Mas um cambicho com a morte há muito que o perseguia
Como estranha bruxaria e alucinado vento norte
E embora um taura suporte por esta vida tirana
Tanta rodada aragana lá de longe ela acenava
E com encanto lhe assobiava igual sereia pampeana.
Depois que terminou o apero, desquinado tento a tento
Escutou na voz do vento, o chamado derradeiro
E com um cabresto campeiro, primor de paciência e sonho
Nesse namoro medonho, resolveu com gana louca
Beijar a morte na boca em um fim de tarde tristonho.
Desceu em ti, Fidelço Pechada, pra sempre, uma noite longa...
Eu te aparto esta milonga, com uma orelha assinalada.
Porque entre a gauchada, tua ausência nos desgosta
E batendo casco pela costa, tuas verdades pastam juntas
Pois esta vida tem perguntas que ficarão sem resposta.
Desceu em ti, Fidelço Pechada, pra sempre, uma noite longa...