O céu se parava turvo
E o vento assoprava o pasto
Quando um janeiro já gazo
Prenunciava um temporal
Desencilhei o bagual
E me acheguei pro bochincho
Sedento de algum cambicho
Sem compromisso moral
Nem bem adentrei a sala
Senti um arrepio na espinha
E percebi que a bainha
Da minha adaga castelhana
Parecia uma picana
Cutucando a valentia
Me sugerindo sangria
Com ares de soberana
Foi quando a linda da sala
Me presenteou um sorriso
Meu coração bateu guiso
Feito cobra-cascavel
Então tapeei o chapéu
E empecei o fandango
Me apoderando do tango
Como se fosse o Gardel
Porém aquele presságio
Da espinha que se arrepiava
Quase nunca me enganava
Era um balaço certeiro
Que prenunciava entrevero
Envolvendo algum fardado
Ou um cornudo enciumado
Posando de bochincheiro
Mais até o sábio se engana
Fazendo as vez de profeta
A noite findou completa
E o melhor sem entrevero
Apenas um travesseiro
Se fazia aquerenciado
Sobre o aço esbranquiçado
Duma uma adaga castelhana
Que se guia soberana
Guardando o posto ao meu lado