Num rancho de taipa, à luz de candeeiro
Desses que agora escasseiam na campanha!
Veio ao mundo um piazito o primeiro
De outros mais que o pobre sempre ganha
Benedito, é o nome dele disse o pai!
Para honrar esta cor que tem na pele
O choro que deu relembra os ais
Dos que morrem sem que a história os revele
Benedito cresceu e foi ponteando
Nas brincadeiras, na escola e na lida
Os leões do preconceito ia matando
Com a clareza de que assim era sua vida
Quero mais do que uma vida de favor
Ir além da piedade e da esmola
Honrar minhas origens e transpor
Os limites dos que crescem sem escola
Mesmo piá, tinha a sua precisão
No serviço ao derredor das casas
Mas como os pássaros que vêm e que se vão
Também seus sonhos vão, um dia, criar asas
Ao chegar ao pedestal de suas conquistas
Os descrentes ficaram todos para trás
E, ao repassar a sua vida em revista
Sentiu, também, de quanto era capaz
Benedito, quão maldito inda é teu nome
Nas artimanhas desta vida desigual
Onde o homem é um lobo para o homem
No preconceito - intolerância irracional!
Será o pé do benedito? O que será?
Que dará ao pobre e ao negro seu lugar?
Onde a justiça seja mais que um alvará
E o racismo possa, enfim, se exterminar!