Aqui estou novamente porque cantar é uma balda
De guitarra a meia espalda e a cabeça uma vertente
Quando eu canto reverente repito o meu ancestral
Que neste chão imortal cantou a saga guerreira
E assim desta maneira eu também sou um manancial
Enquanto a guitarra ponteia na harmonia que suaviza
Recebo cheirando a brisa um mate de cuia cheia
Minha atenção troca orelha sem precisar de picana
Olha lá longe a savana desta planura azulada
E solto do peito a manada numa milonga orelhana
Por isso canto solito e nem sequer me concentro
Fechos os olhos e por dentro vejo um cosmos do infinito
A dimensão onde habito serena se transfigura
Pois à noite mais escura sou uma luz do criador
Que fez de mim payador lasca de tempo e lonjura
Esse rumo me conduz e nessa verdade eu creio
Como uma parte do meio que canta, sofre e reluz
Por que os falsos gurus que a lo largo profetizam
Que dissecam e analisam com retóricas e floreios
Não mandam nos meus rodeios e nem meus cantos balizam
Assim encerro a payada que por aqui se termina
E bombeando pra Argentina neste início de alvorada
Batendo asas em revoada num murmúrio a florescer
Que lindo amigos de ver um tahã voando solito
Igual a um giz no infinito riscando o entardecer