Esse meu cusco sem medo, branco manchado coludo
Um amigo antes de tudo com o qual reparto segredo
Encontrei de manhã cedo ainda cachorrinho novo
Ali na beira do povo na zona do chinaredo
Órfão de mãe e de pai levei adiante comigo
E desde então é amigo que mais amigo não hai
Onde vou é certo que vai como uma luz no costado
Meu cusco branco manchado que batizei sapucay.
Mas que importa procedência e o lugar onde se nasça
Era o cusco do ortaça sem rumo e sem residência
Sempre um padrão de obediência disposto a qualquer trabalho
Cruzando estrada e atalho de tudo que foi querência.
Nos comércios de carreira e nas canchas de jogatina
Bombeando de relancina a bugrada carpeteira
Junto aos fogões de fronteira entre a cuia e a malicia
Lambendo alguma caricia de alguma peona faceira.
Pendurado bem faceiro no focinho dos torunos
Foi o melhor dos alunos que nunca teve recreio
Ah, o cusquito era um aceio qual um raio trabalhando
Apartando e refugando num pelado de rodeio.
Parecia um ovelheiro numa lida com rebanho
Aumentando o tamanho num aparte de terneiro
Meu sapucay companheiro até parece que adivinha
Quando vai correr a linha na barranca do pesqueiro.
E num perigo la pucha me lembro até de uma penca
Só me sai dessa encrenca com tua ajuda gaucha
Um balaço a queima bucha me atorava já lo creio
Se tu não entra no meio mordendo a mão e a garrucha.
Quando escuta uma cordeona e um ponteio de guitarra
Parece ate que se amarra na cadencia da bordona
La maula quanto emociona ver-te sapucay amigo
Seguindo o rumo que sigo dos olhos da minha dona.
Meu cusco branco sem medo de tantos anos vividos
Já vão bem longe esquecidos os tempos de chinaredo
Hoje boqueando o purguedo juntado de mil caminhos
Meu sapucay teus carinhos já não estão mais a venda
Já pertencem a minha prenda e as artes do meus piazinhos.