Se canto a pátria colorada meio floresço por dentro
Pois se quer me concentro e a rima já sai maneada
O sol maior da payada brilha pra mim sem barulho
Tenho na voz um mangrulho e quando canto nossa gente
Sou igual uma vertente pulsando no pedregulho.
Nasci cantor guitarreiro no chão índio das missões
E criei nos fogões deste rio Grande Campeiro
Todo cantor missioneiro é uma artéria que se vai
E desde o pai do meu pai trago esta herança encantada
E a alma bugra embarrada das enchentes do Uruguai.
Quando canto, ressuscito os centauros da minha raça
E parece que me abraça um ancestral lá do infinito
Pajé de bronze a arenito que um dia morreu peleando
A guitarra soluçando balbucia esse segredo
Enquanto lá no arvoredo o vento passa chorando.
Por isso abraço a guitarra como a china companheira
Madrinha das penas feiticeiras que me transforma em cigarra
Dentro de mim chora e se agarra o berro da tropa em reponte
Que nem flor humilde no monte meu canto é hóstia sagrada
Que engulo de alma ajoelhada com o olhar no horizonte.
Vou rematando a presilha como todo o trançador
Porque quem é payador canta, mas não se destrilha
Assim me vou na coxilha ruminando sem pretexto
Um velho e bíblico texto que carrega de estribilho
Ao tranco num douradilho com um mouro de a cabresto.