Velho carreiro ao parar de carrear
Pra sua filha o comando ele entregou
E aqueles bois se acostumaram com a moça
De tal maneira que jamais ele encalhou
Podia estar no lamaçal mais perigoso
Bastava ela dar apenas um sinal
Pra se ouvir cocão gemer dentro do barro
E os bois tirando o carro do terrível pantanal
Somente à moça a boiada obedecia
Sem o seu grito o velho carro não saía
Somente à moça a boiada obedecia
Sem o seu grito o velho carro não saía
Um dia a moça adoeceu e aqueles bois
Outro carreiro não queriam respeitar
Era preciso que ela viesse à janela
E desse ordens pra boiada caminhar
Até que um dia sem ouvir a voz da moça
Puxaram o carro a passos lentos pela estrada
Por ter levado o seu corpo num caixão
Qual uma flor de estimação pra sua última morada
Este mistério ninguém sabe se não foi
A voz da moça do além tocando boi
Este mistério ninguém sabe se não foi
A voz da moça do além tocando boi
Daquele dia tudo se modificou
Tanta tristeza tomou conta do lugar
O velho carro que era dela silenciou
E a boiada nunca mais quis carrear
De sentimento por perder a companheira
Foram morrendo um a um pelos currais
Quem somos nós pra entender tamanha dor
Como cabe tanto amor nos corações dos animais
Este mistério ninguém sabe se não foi
A voz da moça do além chamando boi
Este mistério ninguém sabe se não foi
A voz da moça do além chamando boi
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)