Um carreteiro pede passagem
Para uma charla, para um dedo de prosa
Quando a boieira, amiga antiga
Dorme sentida com o rangido das rodas
Nessa cantiga, mais que um lamento
Tudo é saudade na poeira dessa estrada
Onde a poesia, roda e luzeiro
De um mesmo rastro se aparta nessa toada
Era boi, era boieira, é madrugada
Era boi, e o carreteiro vai surgindo pela estrada
E o carreteiro, cruzando tempo
Busca em silêncio um horizonte de esperança
Levando sempre, pra vida inteira
O próprio lume de sinuelo em sua andança
Se a madrugada, clareia aos poucos
E lhe desvela a estrada e o rumo em dia bueno
Também ofusca de sua mirada
A confidente guardiã de seus segredos
Triste sozinho, pelas distâncias
Em dissonâncias poeirentas vive o quebra
Do val do tempo, seguindo estrelas
Navega um poema que nem ao tempo se verga
Sobram carretas, rodam as horas
Pelas estradas quantas juntas amansadas
E o carreteiro pra nosso alento
Canta a saudade de boieiras entoadas