Venho daquele horizonte onde a estrada é um reponte
E a liberdade é xirua na pampa larga estendida
Venho daquela querência onde o campo é referência
Pra quem perdeu o sentido das coisas buenas da vida
Venho daquele rincão onde o patrão e o peão
Batem estribo parelho no camperear das coxilhas
Venho daquelas planuras onde garças são pinturas
E cavalos riscam mapas pelo manto das flechilhas
De onde venho, ora de onde venho,
Das carretas pra quintandas do gado pro saladeiro
De onde venho, ora de onde venho,
Do charque pelas caronas na redenção dos tropeiros
De onde venho, ora de onde venho,
Das estâncias legendárias da água benta do poço
De onde venho, ora de onde venho,
Do lencito maragato dos tempos do sabe moço
De onde venho, ora de onde venho,
Dos candieiros de estopa dos gaiteiros só de ouvido
De onde venho, ora de onde venho,
Do café preto e biscoito dos bailes de chão batido
De onde venho, ora de onde venho,
Dos domingos de apargata do comércio de carreira
De onde venho, ora de onde venho,
Da alma velha de campo, coisas da fronteira
Venho daqueles galpões, onde a alma são tições
Alimentando palheiros e horas de camboneadas
Venho daquelas rodilhas, onde o mate a figueirilha
Ajoja hinos campeiros a remendar pataquadas
Venho bem daquela gente o bairrismo é latente
Sempre que um se atravessa, mal dizendo a pátria gaucha
Venho daquele sistema, onde mudar é um dilema
Pra quem sepultou a vida nos remendos da bombacha