o preto velho gervásio eu conhecia a um tempão
era um escravo obediente, foi o dodoi do patrão
até foi alforriado se livrou da escravidão
ficou ali encostado, mas a sombra do passado lhe doía o coração
conforme passava o carro
na frente do fazendão
o preto velho chorava
na frente do casarão
ja tinha perdido as forças
também a própria visão
mesmo assim acompanhava
tudo o que se passava
naquele trecho de chão
pelo cheiro ele sabia
se vinha vindo boiada
mandava fechava porteira
recolher a criançada
légua e meia ele sabia
quem vinha vindo na estrada
sabia tudo certinho
quem vinha la no caminho
quem passava na baixada
um certo dia ele disse
que estava vendo na estrada
muita gente em silencio
fazendo uma caminhada
o seus amigos olhavam
na estrada nao vinha nada
quando foi dali uns dias
era o preto que seguia
pra verdadeira morada
aquela gente em silencio
naquela estrada comprida
ninguém estava entendendo
era o próprio velho vendo
a sua própria partida